9.11.05

A América e os negros

Escrevo tardiamente, pois a novela "América" já terminou há algum tempo, mas não posso me furtar a observar algumas coisas a respeito dela. Primeiro, esclareco que assisti apenas os 10 ou 15 últimos capítulos, o que já foi suficiente para entender tudo o que se passava. Isso prova a falta de conteúdo da trama.

1- O beijo homossexual não foi ao ar. Ainda bem! Vocês já repararam que as redes de TV, especialmente a Globo, quando fazem pesquisa de opinião sobre política, economia, direito, ecologia, história, religião, e outros temas relevantes em geral, entrevistas pessoas na av. Paulista, em Copacabana ou Ipanema, na Savassi em BH, em Shoppings Centers, etc.? E que as pesquisas que se referem a "comportamento", especialmente no que tange à moral, as entrevistas são feitas com pessoas menos esclarecidas? Os primeiros, mais esclarecidos, têm uma visão mais racional e reta da realidade que nos cerca; os segundos, até mesmo por vivenciarem situações de exclusão e abandono afetivo, acham que "o amor supera tudo", "o importante é ser feliz", etc.
Pois bem. Assim se "forma opinião". Considerando o nível sócio-cultural do país, não é difícil perceber que a grande maioria dos telespectadores vai ao encontro da grande maioria dos entrevistados em assuntos de moral (não ética, que os menos esclarecidos têm até mais do que os outros). Aí surgem as manifestações de apoio ao beijo homossexual.
Não discrimino os gays de maneira alguma; apenas acho que não é um beijo numa novela que irá libertá-los do preconceito ainda presente na sociedade. Ao contrário, acho sinceramente que o beijo homossexual em público só serve para aumentar o preconceito em relação aos gays. Entendo que eles devem ocupar seu lugar na sociedade como as mulheres o fizeram: lutando pela igualdade de direitos, mostrando capacidade intelectual e profissional e maturidade quanto à sua condição e na sua relação com os outros. O beijo gay em público, longe de ser um ato de coragem, é um suicídio social e moral para quem o fez. Serão considerados mártires pelos outros gays, mas serão considerados ofensivos pelos heterossexuais.

2- O "purgatório" da novela é o Cirque du Soleil! Ao som de músicas sacras distorcidas os trapezistas fazem suas acrobacias enquanto outros giram um moinho. Tirando os que giram o moinho, onde está a purgação, o sofrimento de quem está no trapézio ou pendurados em lençóis?

3- Os papéis dos negros da novela não poderiam ser pior escolhidos. Acho que tem a ver com o tema "América", porque todos sabemos que os americanos ainda discriminam - e muito! - os negros. Vamos lá: O Feitosa é um banana que se deixa dominar pela mãe e acaba traído e descobrindo tarde. A mãe do Feitosa (d. Diva) é uma manipuladora fofoqueira insuportável. O Farinha é um filho ilegítimo. A mãe do Farinha (Dalva) é uma dançarina em Paris que, enquanto esteve no Brasil, foi presa algumas vezes (dançarina que vai presa não é dançarina, mas prostituta!). Os demais negros - figurantes - ou ficaram no "purgatório do Cirque du Soleil" girando o moinho (não havia um branco fazendo isso; brancos, só pendurados fazendo evoluções) ou eram sambistas (os únicos que riam à toa). Então, segundo a Globo, os únicos negros felizes são os sambistas.
Ora, bolas! Ser traído, fofoqueria, filho ilegítimo ou prostituta não é privilégio de negros. A Globo ajudaria muito mais se colocasse algum negro em um papel no núcleo rico de alguma novela. Isso sim iria fazer bem à auto estima deles.

Não sei se exagerei, mas essa foi a impressão que tive. Ao final, achei a novela ridícula. Mas no fundo isso é bom. Quem sabe aprendo a deixar de ver novelas, ainda que só os últimos capítulos, e procuro algo com mais conteúdo.

1 Comentários:

Às 2:29 PM , Blogger Cabelo disse...

Você falou está falado, assino embaixo.

 

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