6.2.06

Comentários infelizes

A respeito de um pedido do Cabelo, fiquei de comentar um artigo do Artur Dapieve que outrora foi publicado no "O Globo". Li o artigo uma vez e quando fui ao link novamente para comentá-lo, já não era mais o mesmo artigo que estava lá. Paciência. Vou comentar o que me lembro.

Lembro que o artigo concordava que o Lula se utilizasse das obras que vem fazendo para trazer a si possíveis votos. A justificativa era a mesma de Lula, algo como: "Se eu não fizer as obras necessárias, isso será aproveitado pelos meus adversários." "Se eu fizer e for criticado, que seja por algo que fiz ao povo". Claro que minhas frases são melhores que as de Lula, mas a idéia é a mesma.
Pois bem, o problema não é utilizar as obras para fins eleitoreiros. Lula está sendo criticado porque os recursos para tais obras ou foram retidos ou - pior - existindo, não foram aplicados a tempo e a hora por incompetência própria e de seus incontáveis ministros. E isso não se aplica só aos remendos não licitados para as péssimas estradas. E agora, a toque de caixa (caixa 2 ?) as obras vão saindo e Lula aproveitando... A pergunta é: As coisas precisavam ter ficado paradas até agora? A resposta é: Precisavam, pois Lula não quis melhorar "este país"; quer sim é se reeleger.
Tivesse um ano a mais de mandato, nosso (in)digníssimo presidente (minúsculo, sim) deixaria tudo para esse último ano. E até então o povo sofre... Metaforicamente, ao gosto do lula (cada vez mais minúsculo), "é como um médico que pode curar com comprimidos em 5 dias, mas prefere fazer sofrer até realizar uma cirurgia de amputação no 6º dia, bater no peito e dizer que te salvou".

Outro comentário que me chamou a atenção foi uma menção ao que seria um "erro": priorizar o transporte rodoviário em detrimento de outras modalidades. Ora, com o mínimo de conhecimento histórico é possível perceber que a integração nacional se deu em função das rodovias (densidade demográfica variável entre as regiões não é sinal de falta de integração). Não sejamos ingênuos para acreditar que trens cumprissem esse papel. Ademais, quem iria imaginar que a carga tributária e os subsídios que persistem até hoje aos usineiros de álcool fossem tornar os combustíveis tão caros? Quem iria imaginar que a fiscalização de pesos de cargas e a manutenção das estradas fosse relegada por tanto tempo? Quem iria imaginar que as estradas - por desídia governamental - fossem todas acabar ao mesmo tempo, para depois terem de ser praticamente refeitas? Quem iria imaginar que a corrupção fosse retirar toda a qualidade necessária para se manter a malha viária transitável?
Quando a construção, fiscalização, manutenção e conservação das estradas são bem-feitas, os custos globais são menores, desde a infra-estrutura até o preço final do frete. E isso não é um erro, mas uma opção.

Finalmente, quanto ao comentário de que Geraldo Alckmin frequenta o Opus Dei, "entidade ultraconservadora da igreja católica", em tom depreciativo.
Primeiro, até mesmo o Padre Marcelo (que todos têm como progressista, mas que usa batina ou "roupa de padre" durante todo o dia, ao contrário de certos clérigos que não assumem sua condição ao se vestirem como leigos) está alinhado com a Igreja nas matérias ditas controvertidas: aborto, contracepção, camisinha (promiscuidade), eutanásia/distanásia, celibato, casamento homossexual, adoções por homossexuais, etc. O que não pode ocorrer é confundir por ignorância ou propositadamente o Estado laico com um Estado ateu. Ao criticarmos qualquer pessoa por seguir uma religião, estamos violando o artigo 5º da Constituição Federal. O Estado é laico justamente para garantir aos cidadãos a plena igualdade no exercício de seus direitos e no cumprimento de seus deveres, independentemente da sua religião. E nem se alegue que seria um "perigo" um Cristão católico, evangélico ou espírita, ou mesmo um Budista, Muçulmano, politeísta, panteísta ou ateu, assumir a Presidência da República. Primeiro porque o laicismo do Estado é cláusula pétrea da Constituição; segundo porque por trás de um Presidente sempre haverá um Congresso independente e representante dos interesses do povo que o elegeu. Por exemplo, se o Presidente for contra o casamento gay e o Congresso decidir aprovar uma lei que o autoriza, mesmo que o Presidente vete a lei, o veto Presidencial poderá ser derrubado.
Ser coerente com sua religião - qualquer uma - não é um defeito, antes é uma virtude que demonstra o caráter da pessoa. E mais ainda de alguém como Geraldo Alckmin, que ultimamente tem sido criticado por ser católico mas não deixa de sê-lo e de dizê-lo coerentemente. Lula não tem sequer coerência consigo mesmo, ao freqüentar não como Chefe de Estado, mas como indivíduo, cultos das mais diversas religiões. Tudo atrás de votos! É um cara-de-pau, pra dizer o mínimo! Tão cara-de-pau que iria levar, na sua comitiva, ao Vaticano uma mãe-de-santo! Louvável o ecumenismo tão defendido pelo Papa João Paulo II, que foi homenageado pelos representantes das mais diversas religiões que por sua conta e às suas expensas o fizeram. Nenhum Chefe de Estado teve a pachorra de fazer o que o Lula queria fazer, ou o Lula achou que poderia ser um novo líder religioso através do seu ato indelicado?
É assim que se vê de que material é feito um homem: Geraldo Alckmin de granito, inamovível; Lula de areia, vai ao sabor do vento.
Certamente não votarei no Lula. Votarei, no entanto, em outro candidato - que pode ou não ser Geraldo Alckmin - sem levar em conta sua religião, pois acho de fato irrelevante tal análise, preferindo avaliar o histórico do candidato - o que fiz muito mal nas últimas eleições, confesso. Com efeito, num Estado Laico a religião seguida pelo candidato não pode, sob pena de restarem feridos de morte os princípios básicos da liberdade individual, ser objeto de mérito ou demérito.

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