29.3.06

Politicamente corretos ou socialmente responsáveis?

Em debate promovido no blog da Alessandra Alves (www.alessandraalves.blogspot.com) surgiram algumas idéias. Pegando o mote da mudança da estorinha dos "Três Porquinhos" e da mudança da letra da música "Atirei o pau no gato", bem como de "Falcão - os meninos do tráfico" e elucubrações próprias, fiz o seguinte comentário: A questão não é ser politicamente correto no dizer, no escrever, mas sim no agir com responsabilidade. Os meninos brincam de traficante porque esse é o ideal de vida deles, o cume a que podem chegar - chefes do tráfico. Quando eu era criança brincava de "polícia e bandido" com revólveres de espoleta, e nunca tive vontade de comprar uma arma de verdade. Naquele tempo, não tão longínquo, todos queriam ser "polícia", porque era uma instituição respeitada, onde quase não havia corrupção, e por isso se faziam respeitar. Para os meninos da favela, ser traficante é ser respeitado, ainda que à força. O traficante ou alguém protegido por ele se sentiu ofendido? Morte ao ofensor. Precisa de médico? Se pedir ao traficante ele paga consulta particular; se depender do Estado, morre na fila... O tráfico supre as deficiências do Estado. Os valores daquelas crianças estão totalmente invertidos, e isso não é culpa dos "três porquinhos", ou do "atirei o pau no gato", e nem vai mudar porque a estorinha e a letra da música foram modificadas. Enquanto isso os acadêmicos preparam "cartilhas do politicamente correto", quando na verdade deveriam agir de modo a fazer todo e qualquer cidadão se sentir respeitado como tal, se sentir seguro de seus direitos e compromissados com o cumprimento de suas obrigações. Ser respeitado e respeitar os outros. Isso é ser politicamente correto, socialmente responsável. O embrutecimento do ser humano está diretamente ligado à forma com que está inserido na sociedade. Já está mais do que na hora de metermos a mão na massa. Na minha época, os bons valores estavam tão arraigados em nós que podíamos ouvir "atirei o pau no gato", brincar de Falcon ou Comandos em Ação, polícia e bandido, ter armas de espoleta, que nada disso abalava tais valores. Afinal de contas, éramos (somos) classe média, com plano de saúde, escola particular e caderneta de poupança. As crianças que brincam de "matar o X-9", que vêem os bandidos como super-heróis e a polícia como bandidos, que estão acostumadas à violência desde o nascimento, cuja linha que separa o que é correto e o que não é já não existe mais, não podem ouvir "atirei o pau no gato" até que se resgatem os valores éticos e morais perdidos na dureza das suas vidas. E pensar que existe a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a Constituição, o Estatuto da Criança e do Adolescente... Cadê as ações para levar a cabo tudo isso? Cadê a responsabilidade social? O que fizemos de concreto? Mea culpa, mea culpa...

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